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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O ballet da vida

 A vida nos oferece muitas coisas todos os dias e nós muitas vezes não sabemos aproveitá-las. Todos passamos por momentos difíceis e temos que aprender a lidar com as situações que a vida nos impõe. Não é porque alguma coisa não está ruim que ela necessariamente esteja boa; e você não estar triste não quer dizer que obrigatoriamente esteja feliz.
 Com cada erro, decepção e falha, nós aprendemos e crescemos. Adquirir experiência é importante para o nosso desenvolvimento pessoal e para que possamos "andar com nossas próprias pernas" quando não tivermos ninguém para nos amparar.
 Muitas pessoas passam por nossas vidas e todas elas deixam marcas. Algumas boas, outras nem tanto; algumas pequenas, outras cicatrizes de feridas que custaram a fechar. Mas com todas elas nós aprendemos algo, seja com as brigas ou com as conversas; às vezes com apenas sábias palavras que lhe acrescentaram muito.
 E neste balé da vida, só nos resta saber aproveitar cada momento. O aprendizado está sempre presente, nós, algumas vezes, apenas demoramos para perceber. Então quando estiver pensando em desistir de algo, lembre-se que sempre haverá alguma coisa boa no fim de tudo e que às vezes a recompensa demora a chegar, mas isso só a torna mais gratificante. 

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O pertencer

Estou tentando me curar de você,
libertar-me do teu sorriso
mas a cada passo que dou
teus olhos voltam à minha mente
tanto tempo...
você parece um vício.
Longe, tudo é fácil
o coração se comporta, os pensamentos me mantem focada
Perto, a fortaleza se destroi,
como um castelo de areia surpreendido pelo beijo repentino de uma onda feroz.
Os batimentos se descontrolam,
tentando a todo o custo derrubar por completo
a minha máscara de garota forte,
meticulosamente construida.
Será que ela vai conseguir?
ser feliz finalmente, depois de tanto tempo...
tempo esperado, tempo sonhado
merecida felicidade
Será que eu vou conseguir?
libertar-me finalmente, depois de tanto tempo...
tempo esperado, tempo sonhado
merecida liberdade
Venha comigo, dê-me a mão
juntos somos o todo, completos enfim
Deixe-me ir, solte meu coração
separados por fim
Meu coração pertence a você,
tens o pedaço que o completa;
(Será que realmente tinha?)
Teu coração não é de ninguém.
Apenas um beijo e...
Nunca encontrarei a paz. *

Será que vamos conseguir?

___

Este é um texto bem diferente dos que costumo escrever. Experiências novas, eu diria.
Agradecimentos especiais à querida Dani por sua incrível emoção poética
e ao Sonohra por suas músicas inspiradoras.


*trecho de seguimi o uccidimi por Sonohra

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Bela infância

  Como era bela a nossa infância. Podiamos fazer tantas coisas inocentes e ser tão felizes. Como eramos felizes! Brincávamos, conversávamos, riamos sem procupação.
  Quando a escola era divertida e não precisávamos nos matar de estudar para as terríveis provas bimestrais. E quando as provas eram realmente testes de conhecimento; conteúdos que você aprendia na aula, coisas divertidas, ao contrário de uma enxurrada de conteúdo chato e explicações apressadas de professores irritados por estarem dando a mesma aula pela 6ª vez na manhã.
  A bela infância de quando o coração era alegre. Alegre por ter amigos, alegre por amar. Quando o amor ainda não doia, não fazia sofrer, não fazia chorar, não fazia o coração sangrar.
  Quando ainda não precisávamos fazer escolhas, e magorar as pessoas com elas. Quando as nossas responsabilidades eram pequenas, e se algo desse errado, podiamos correr para os colos de nossos pais e chorar. Chorar sem vergonha, sem medo, pois tinhamos a certeza de que, apesar da bronca, no final tudo acabaria bem, com um abraço consolador.
  Chorar. Como é bom chorar enquanto criança! Ninguém reclama se choras por um motivo bobo, e ninguém te julga fraco, só porque derramas lágrimas. Como se chorar fosse sinal de fraqueza.
  A vida de gente grande não é fácil. Parece que realmente tudo fica 'grande', mais intenso. Grandes responsabilidades, grandes amores, grandes decepções, grandes felicidades, enormes saudades... Tudo fica mais difícil de ser esquecido. Um mundo onde todos esperam mais de você.


Alguém, por favor, dê-me a chave de volta para aquele mundo feliz!!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Delírios piréticos

Esclarecimentos iniciais:
O texto ficou um tanto grande, então resolvi dividi-lo em dois. Se se interessarem pela primeira parte, leiam a continuação para saber o desfecho desta história ^^

_____

 Andava por um estreito e longo corredor, escuro e gélido. Suas paredes, feitas de blocos de pedra, deixavam-no mais úmido e assustador. Não fazia ideia de como havia chego ali; as únicas lembranças eram de estar correndo, como quem corre para salvar sua vida, e dos gritos estridentes pedindo por socorro. Isso já explicava o por quê de estar sem fôlego.
 Calafrios percorreram seu corpo quando avistou uma luz fraca que vinha do fim do corredor. Algo lhe dizia que aquela não era a luz da saída. O pesadelo não estava nem perto de acabar. A medida que se aproximava da grande porta de madeira, começava a distinguir os diferentes sons de dentro da sala: blocos de pedra sendo arrastados? E vozes talvez... Pelo eco que fazia, parecia ser um grande salão.
Parou na porta e observou. Aquilo era o sonho mais bizarro que já tivera. Deu dois passos a frente, todos se viraram em sua direção. Não podia acreditar no que estava vendo! Aquilo eram realmente peças de um jogo de xadrez?! Alguém só podia estar brincando. Enormes e majestosas peças de mármore em cima de um tabuleiro. Comentários começaram a surgir enquanto a garota ficava cada vez mais pasma. Apesar do surrealismo, o ambiente era sombrio lá dentro.
 Ainda estava em choque quando de repente tudo ficou em silêncio. Uma criatura sem rosto, com vestes prateadas e cabelos longos da mesma cor apareceu do outro lado do tabuleiro e trouxe consigo uma brisa gelada. Nada do que havia passado antes (as lembranças, os gritos, o corredor) era tão assustador quanto aquele ser.
 Bastou apenas um gesto para que as peças brancas começassem a se posicionar no tabuleiro. Como era de se esperar, a criatura tomou o lugar da Rainha. Logo em seguida, como se por um reflexo, as peças pretas também se moveram. Natalie continuava estática perto da porta. Então o Rei preto dirigiu-se a ela num tom de obviedade:


- O que está esperando? Junte-se a nós!


 A garota subiu no tabuleiro e ao passar pelo Rei ouviu o comando de que deveria tomar o lugar do Cavalo da Rainha. Mais do que depressa, a partida foi iniciada. O primeiro peão branco avançou e a tensão pairava no ar. Alguns movimentos passaram em vão. Jogadas preparando-se para atacar ou defender. Natalie ainda não conseguia se concentar no jogo, mantinha os olhos fixos em uma única peça. Sentia que sua tarefa era destrui-la. Não o Rei, mas, sim, a Rainha. Sua inimiga, sua adversária.
 Um grande barulho tirou a sua atenção, mármore quebrando. Olhou para o lado e viu os restos de seu primeiro peão espalhados pelo tabuleiro. Fora completamente destruido. O jogo havia começado de verdade! Peças e mais peças foram caindo. Natalie estava cada vez mais ciente das ações do Rei. Começava a compreender cada jogada.
 O temor atingiu seu corpo quando ouviu o comando mais inesperado: 'Cavalo da Rainha na D3'. Era seu primeiro movimento e o rei a colocara na linha de ataque da rainha? Toda sua coragem e determinação se foram como água escorrendo pelos dedos. Podia sentir a espada da Rainha destruindo sua montaria num piscar de olhos. O Cavalo saltou sobre o peão a sua frente e trotou calmamente para a nova posição. Natalie fechou os olhos. Ouviu a peça se arrastar e... Nada. Nada aconteceu com ela. Abriu então os olhos e viu a Rainha parada exatamente no mesmo lugar de antes. O jogo continuou.


TO BE CONTINUED

Delírios piréticos - parte 2

 Alguns movimentos e Natalie já sabia exatamente qual jogada fazer para destruir a sua inimiga. Não se importava com o Rei branco. Mas sem nenhum aviso, a Rainha fez seu primeiro movimento: B5. Nem acreditava no que estava vendo. Era a oportunidade perfeita! Bastava um movimento de seu cavalo para saciar a vontade de destruição.

- Cavalo da rainha na E4 - o comando do Rei preto foi imponente.

- NÃO! - O grito da garota foi ensurdecedor. Havia perdido a chance. - O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?!

 Nenhuma resposta do Rei. Decepção e indignação corriam em suas veias. Moveu-se novamente, mas não se importava mais. Para ela, a batalha estava acabada. Não teria outra chance como aquela. Por que o rei havia feito aquilo? Ela podia ter destruido a Rainha!
 Movimentos e movimentos em vão, só peças inúteis caindo no esquecimento. Natalie estava alheia a tudo, se fosse destruida nesse exato momento sequer perceberia. Para ela, a batalha estava perdida. Desistência era o que passava em sua mente.
 Um Bispo se moveu para perto dela, trazendo consigo um ar de calmaria. De repente, ela começou a sentir o jogo novamente. Um olhar da peça que agora estava próxima a ela, não precisou mais do que isso. Sequer de palavras, sabia o que aquele olhar significava. Voltou-se para o tabuleiro e tudo estava claro agora. Um movimento era o necessário para o bem mais sagrado de sua inimiga ser destruido. O meio mais rápido de atingi-la era destruindo o Rei, como não pensara nisso antes?
 Natalie se impôs com um olhar firme para o Rei preto. Não precisou esperar mais do que a rápida olhada para que ele desse o comando seguinte.

"Cavalo da rainha na E6"

 Sentiu o pulso aumentar. Pode sentir também a adrenalina correndo em seu sangue ao ouvir o decreto:

Shah mat - o rei está morto

 Xeque-mate. O fim. Estava tudo acabado. Natalie virou-se para o Rei e sorriu. Olhou, então, para o Rei adversário. 'Sinto muito' ela sussurrou. Ele esboçou um sorriso, como se estivesse contente com aquilo. Logo sua expressão mudou para um tom de terror, o olhar saiu da menina para algo que estava atrás. Natalie virou para ver o que era.
 Ignorando todas as regras, a Rainha não se deu por vencida. Disparou em direção à garota, voraz. Empunhava a espada firme, apontando para o mísero Cavalo. Só mais uma peça, porém, a peça essencial. O Cavalo que pusera fim a partida. O tempo não corria para Natalie, ela via tudo em câmera lenta. Sua inimiga vindo em sua direção, como se tivesse esquecido de tudo: regras, casas, movimentos. Por fim, acabaria em detruição. Sua trágica destruição, mesmo depois de ter ganho a batalha.
 Sentiu a espada entrar no mármore a poucos centímetros da sua perna. Agora estava caindo, jundo aos pedaços frios de seu cavalo. Caia, mas não conseguia sentir o chão. Caia...
 Ouviu um barulho de metal se chocando.

- Cuidado com isso! Vai acordar a garota. Vamos, leve isso para fora daqui.

- E então, enfermeira, como ela está?

- Ainda delirando em febre.
_____



Meus agradecimentos especiais ao Gui, por ter me ajudado
a conseguir a jogada perfeita. Sem sua paciência e dedicação
em montar um jogo num tabuleiro só para anotar os movimentos,
o texto teria sido arruinado. Obrigada, querido.

sábado, 12 de junho de 2010

Say what you need to say

Ainda estava angustiado, a semana não fora nada fácil para ele. Precisava distrair seus pensamentos, ocupar a cabeça com algo útil ao invés de ficar pensando nela. Resolveu desenhar. Desenhar era algo que o fascinava, e uma das poucas coisas que o deixavam totalmente alheio ao mundo.
Pegou o caderno na mochila, uma folha caiu no chão. Não era uma folha qualquer, já havia visto aquele 'modelo' de folhas em outro lugar. Em um lugar de que ele não queria se lembrar agora. Não hoje, não nesse momento. Juntou o papel do chão, deixou o caderno em cima da escrivaninha e sentou-se na cama. Ao abrir a folha dobrada, seu coração apertou. Era a letra dela.

'Faz tanto tempo que eu procuro a coragem, o momento certo pra dizer essas palavras...'

Enquanto lia, sentia como se ela mesma estivesse sussurrando em seu ouvido. Cada palavra escrita no papel, era como uma punhalada em seu coração. Doia, sangrava. Fazia o arrependimento pesar mil vezes mais.

' (...) Quantas vezes tentei te esquecer. Dizia a mim mesma que seria forte o bastante para isso. Era fácil enquanto você estava longe. Mas todas as vezes que eu te via de novo, meu coração batia mais forte.
Eu passava os dias pensando em seu sorriso, em como era bom estar com você... Mas você parecia nem ligar para isso.'

Ele ligava. Como gostaria de poder dizer isto a ela. Sentia vontade de gritar, como se ela pudesse, de algum modo, em algum lugar, ouvir.

' (...) Mas infelizmente, querido, eu não vou poder esperar para sempre. A vida passa rápido, e quando nos damos conta, já é tarde demais.'
Carpe diem, era o que ela sempre dizia. Aproveite o dia... Parecia algo tão banal antes. Agora ele entendia exatamente o significado daquelas sábias palavras. O tempo não pára.
Ao final da carta havia uma frase do poema favorito dela:

'' 'Depois de um tempo você descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso'
William Shakespeare ''

A folha escorregou por suas mãos até o colchão. Ao abaixar a cabeça, com o coração mais apertado do que antes, ele notou que a carta estava datada. Havia sido escrita exatamente três dias antes do acidente.
Pensou em tudo o que gostaria de ter dito a ela, tudo o que poderia ter feito, e que, por algum motivo idiota, não fez. Lembrou-se de todas os momentos felizes que passaram juntos, mesmo como amigos. Bons momentos aqueles. E lembrou-se também de todas as palavras rudes e todas brincadeiras infantis que a magoaram tanto. Quanto tempo disperdiçado com coisas inúteis.
Agora não tinha mais tempo. Ele nunca mais poderia acariciar sua pele, envolvê-la nos braços, tocar seus longos cabelos. Jamais teria a oportunidade de beijar seus lábios e dizer as poucas palavras que a fariam feliz: Eu te amo. Palavras estas que sempre estiveram guardadas no fundo de seu coração. Agora ele não podia mais dizer, enquanto ela teria a eternidade toda para esperar.


Ele chorou.