Páginas

sábado, 12 de junho de 2010

Say what you need to say

Ainda estava angustiado, a semana não fora nada fácil para ele. Precisava distrair seus pensamentos, ocupar a cabeça com algo útil ao invés de ficar pensando nela. Resolveu desenhar. Desenhar era algo que o fascinava, e uma das poucas coisas que o deixavam totalmente alheio ao mundo.
Pegou o caderno na mochila, uma folha caiu no chão. Não era uma folha qualquer, já havia visto aquele 'modelo' de folhas em outro lugar. Em um lugar de que ele não queria se lembrar agora. Não hoje, não nesse momento. Juntou o papel do chão, deixou o caderno em cima da escrivaninha e sentou-se na cama. Ao abrir a folha dobrada, seu coração apertou. Era a letra dela.

'Faz tanto tempo que eu procuro a coragem, o momento certo pra dizer essas palavras...'

Enquanto lia, sentia como se ela mesma estivesse sussurrando em seu ouvido. Cada palavra escrita no papel, era como uma punhalada em seu coração. Doia, sangrava. Fazia o arrependimento pesar mil vezes mais.

' (...) Quantas vezes tentei te esquecer. Dizia a mim mesma que seria forte o bastante para isso. Era fácil enquanto você estava longe. Mas todas as vezes que eu te via de novo, meu coração batia mais forte.
Eu passava os dias pensando em seu sorriso, em como era bom estar com você... Mas você parecia nem ligar para isso.'

Ele ligava. Como gostaria de poder dizer isto a ela. Sentia vontade de gritar, como se ela pudesse, de algum modo, em algum lugar, ouvir.

' (...) Mas infelizmente, querido, eu não vou poder esperar para sempre. A vida passa rápido, e quando nos damos conta, já é tarde demais.'
Carpe diem, era o que ela sempre dizia. Aproveite o dia... Parecia algo tão banal antes. Agora ele entendia exatamente o significado daquelas sábias palavras. O tempo não pára.
Ao final da carta havia uma frase do poema favorito dela:

'' 'Depois de um tempo você descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso'
William Shakespeare ''

A folha escorregou por suas mãos até o colchão. Ao abaixar a cabeça, com o coração mais apertado do que antes, ele notou que a carta estava datada. Havia sido escrita exatamente três dias antes do acidente.
Pensou em tudo o que gostaria de ter dito a ela, tudo o que poderia ter feito, e que, por algum motivo idiota, não fez. Lembrou-se de todas os momentos felizes que passaram juntos, mesmo como amigos. Bons momentos aqueles. E lembrou-se também de todas as palavras rudes e todas brincadeiras infantis que a magoaram tanto. Quanto tempo disperdiçado com coisas inúteis.
Agora não tinha mais tempo. Ele nunca mais poderia acariciar sua pele, envolvê-la nos braços, tocar seus longos cabelos. Jamais teria a oportunidade de beijar seus lábios e dizer as poucas palavras que a fariam feliz: Eu te amo. Palavras estas que sempre estiveram guardadas no fundo de seu coração. Agora ele não podia mais dizer, enquanto ela teria a eternidade toda para esperar.


Ele chorou.